domingo, 6 de maio de 2007

borboletRas * 2 *

Capa: © Photographer-Pixel-pizzazz

*

Segredos da Monarquia
Caroline Schneider


Escondo-me sob o manto de rainha
Mas quero o súdito mais rude da corte
A penetrar meu ventre ordinário de mulher
Quero gritos de plebéias
Transpiração de rameiras
Gemidos de cortesãs
Que façam ecoar em meu ser
as trombetas dos cavaleiros
A guerrear nas savanas do meu reino
Quero ser devorada como faisões
de banquetes reais
Sobre colchões de feno
Nos currais

Dou meu cetro de poder
A quem, mesmo de soslaio possa
Retirar-me do mediterrâneo inferno
Que é viver
Sem uma centelha de prazer...
*

***

Sensações da Arte
Caroline Schneider

segredos calam
não os quero ouvir!
batidas fortes
tão negro sentir
intensos cabos que gemem
em ofuscadas sensações
no corpo-semente
de gélida estátua marmórea
construída por frio escultor
que cava seu vento interior
em cada detalhe da peça
marcas do tempo
fincadas por solstícios ciclos
rebatem forças dos vendavais da vida
não importa quantas estações se passem
gravadas na face
do imóvel busto
remanescem intransfiguráveis
sensações da arte
traduzidas, combalidas
do negro véu interno
das mãos do artista!

***

Maria, Mãe da Vida
Caroline Schneider

Maria
Mãe da vida
Em teu olhar perene
Volitam anjos candos de ternura

Oh, mulher, símbolo da seiva
gana e garra que não me deixam esmorecer
Quando vejo quão acanhados
Os pequenos dilemas do meu ser

perdestes teu filho para uma cruz de espinhos
sorristes pra Deus
mesmo aflita entre escarninhos
Maria
Mãe de mim
Pra quem um dia roguei
Não deixes partir
O meu ser bipartido
Que tão pequena nascera
Tão frágil, tão bela
Pequena quimera
que sonhei para mim

E tu, mãe das mães
Mesmo tendo perdido teu filho
Em nome dos filhos perdidos
Não me negou concessão
Hoje sou mãe
E sei, e sinto
A dor que sentistes
Ao ver teu filho, tão lindo...
Tão forte, tão cheio de vida
Cegado de luz
Maria
Seque teu pranto em meus ombros
Que te darei parte do meu coração...
*

***
*
Miséria
Caroline Schneider

Ai, Miséria
Em chão repleto de espinhos
Em noite sem teto, no caminho

Por que maltratas
Os filhos da vida?

Migalhas de pão
Restos de lixo
Seres abjetos
Renegados a viver
No limbo

“Dignidade e Cidadania”
Pra quem foi feita esta Constituição!?
Caminho de paz só se faz
com direitos iguais
Em que mundo vivem
Estes seres exclusos de nossa eugenia?

Buscando sobreviver
Em meio a putrefatos
Excrementos de alheia vida
Mesmo sangue corre em suas veias
Mesmo sopro há na alma que os habita

Igual matéria, Igual valor
Filhos esquecidos pra dor
São transparentes, sem voz
O mundo passa, nem os nota e ao seu algoz

Quisera nunca encarar a agrura
De ver tal figura
Real, tão crua, repugnante
Um sonho de gente
Plantada em semente
Despojada de seiva para germinar
Com tão fracas raízes
Fadados estão seus galhos a secar

Oh, Miséria! (absorta em sua própria miséria)
Por que maltratasOs filhos da vida?

***

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Curitiba, Paraná, Brazil
Sou tudo que fervilha. Sou o desenho das nuvens. Sou as lágrimas de felicidade. Sou o sorriso. O sol da manhã. Sou o suor escorrendo. O cheiro de café no corredor. Sou a borboleta voando. Sou meus sonhos. E também sou a realização deles. Pra mim, a vida tem sentido.

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